Acompanhe a programação pelas redes sociais

GALERIA DOS FINALISTAS

“A vida é um sonho vão que a vida leva cheio de dores tristemente mansas”, escreveu Vinicius de Moraes em 1933 em sua poesia sobre solidão. O resultado do Festival Foto Bsb se configurou com fotografias cheias da solidão viva e registrada no isolamento e distanciamento impostos pela pandemia.
Três interpretações fotográficas se destacaram na leitura dessa nossa “nova realidade” forçada, isolada e desafiante. Janine Moraes distribuiu o seu ver e o olhar para o mundo no enquadramento fotográfico que força a leitura de dentro para fora da imagem. O instantâneo percorre o ambiente sombrio para apresentar cores, vida e luz. Priscila Natany trabalha a composição de forma majestosa ao compor luz e objetos de uma forma que traz inspiração, é sublime. Por fim, tem tanta harmonia que parece ter sido pintada junto com as mãos de Diane Arbus. Já Gabriela Pires força o olhar para o tema que incomoda, que é atual e traz muita angústia. É o sufoco registrado que transborda a imagem ao educar o leitor sobre a sombra da morte que já levou mais de 100 mil brasileiros.

Estas foram as escolhas para participar da mesa redonda sobre o fotografar em tempos de pandemia, que será realizada dia 19/8, as 11h, com mediação do fotógrafo e professor Alan Marques.
Porém, fazem parte de uma seleção maior da curadoria do Festival, formada por 20 fotografias, dentro de um universo de cerca de 10.000 fotografias e 3.000 autores de todo o Brasil, selecionados pela originalidade e poesia das imagens capturadas, dentre tantas belíssimas imagens encaminhadas.
Wehter Santana traz em seu retrato preto e branco a mistura do que é o rastro do homem e o homem perdido em sua obra; Tati Freitas enquadra sua visão no andar distante do desconhecido que só é visto da janela; Rose Battistella é literal em traduzir o resultado da depressão em símbolos e o eterno branco que não nos deixa descansar; Ricardo Luís Silvia faz sua própria cartografia da existência ao movimentar linhas com pessoas; Priscila Carneiro faz autorretrato tentando projetar a sua liberdade para um estado líquido-vidro; Marcelo Mandelli brinca com as sombras na procura de monocromia e transformação dos seres em objetos; Marcelo Magushi vê na simplicidade do objeto um desejo profundo de projetar sua liberdade; Lucas Nakazato mostra profunda sensibilidade do artista e técnica fotográfica. Ele faz a disposição de elementos com os mais afetados pelo isolamento imposto pelo medo real do contágio, a sombra e a luz que dividem a realidade de quem vê tudo pela janela e a delicadeza da flor e da linda pele que já viu vários verões; A foto Los Amantes de Kaiwany Matias é a mistura entre o sensual e o proibido em cores quentes; Ju Drummond faz alusão direta ao que é ser-humano que pouco pode e tudo sente; Joel Rocha traz uma imagem cheia de simetria ao estilo de Cartier-Bresson em um flagrante do cotidiano que é a representação da visão aérea do fotógrafo em um tratado distante e frio. A curadoria optou por manter também uma segunda imagem, com sua referência a pontos e diagramas. Tudo é tão preto e branco até não ser mais. A cor é salpicada para dar destaque e as formas são formas até se transformarem em pessoas. As pessoas deixam de ser pessoas e passam a ser pontos em um ritmo que parece uma dança; Isabella de Jour desliga a “Netflix” para capturar a própria solidão em retrato que diz o quanto as tecnologias nos unem nesse momento que estamos tão distantes; Daniela Lucheta faz da fotografia a sua máquina de cubismo recortando o mundo e transformando o real em uma geometria forçada e ao mesmo tempo apropriada; Camila Alemany e a sua fotografia cheia de textura de pele. A firmeza das linhas se apresenta ao poucos até chegar a carne florescente e encarcerada; Cadu Azevedo capta valete de copas preso pela barras e barrado por corações. Deixa apresentar apenas o olhar de quem tem ou vontade de sair ou medo de ficar; Bruno Alencastro monta cenário para refletir sobre como o interior sente falta do exterior. A cor verde azulada é um esforço tão grande para o daltônico quanto a identificação do que é o dentro e o que é fora; Antonio Salavery produz a imagem que pode trazer várias sensações ao mesmo tempo. A primeira e definitiva é o desconforto.

© 2020 Todos os direitos reservados. Festival de Foto BSB